Karoline Vitto
por Rebecca Bevacqua
“Trabalhamos com um casting exclusivamente curve, ou seja, com modelos de tamanhos acima do padrão 36 da indústria”
Karoline oferece conselhos valiosos para aspirantes (ou não) a estilistas: “Seja autêntico e fiel à sua visão”.
A designer brasileira radicada em Londres Karoline Vitto, egressa do Curso de Bacharelado em Moda da UDESC, fez em setembro sua estreia solo na Semana de Moda de Londres. A conquista veio depois de dois desfiles da marca pela incubadora de talentos Fashion East, em Londres, e de uma temporada em Milão em parceria com a Dolce&Gabbana. Natural de Caçador, Santa Catarina, e radicada na capital britânica há oito anos, Karoline celebra os aspectos mais controversos e negligenciados da forma feminina. Subvertendo narrativas sobre forma e tamanho, Vitto celebra as curvas e acentua as dobras, colocando o corpo no centro do processo de design. Inclusão e uso responsável de recursos estão na vanguarda de sua marca homônima fundada em 2020, com todas as peças feitas sob demanda, variando dos tamanhos 38 ao 56.
Karoline Vitto foi capa da Vogue Brasil e foi usada pelas supermodelos plus size Ashley Graham, Paloma Elsesser e Precious Lee, bem como pelas cantoras Kelly Rowland, Nathy Peluso, SZA, Tems, Luedji Luna, Duda Beat e Shygirl. Karoline estudou na UDESC e na Central Saint Martins, além de ter feito mestrado no Royal College of Art. A coleção Undertide, primeira de Karoline como estilista solo na Semana de Moda de Londres, traz 22 looks em tops, vestidos e saias drapeados em malhas inovadoras com funções anti-atrito e anti-térmicas perfeitos para o verão, calças baggy estruturadas com detalhes reguláveis, além de metais e joias corporais flexíveis e ajustáveis em acabamento cromado desenvolvidos em parceria com o designer de joias Carlos Penna.
Semifinalista do Prêmio LVMH 2024, Karoline Vitto conta que estar nesta lista seleta representou não apenas um reconhecimento do seu talento, mas também uma validação de sua missão de promover a inclusão na moda. Para ela, essa conquista é uma oportunidade de amplificar sua voz e a mensagem de que a moda deve ser representativa de todos os corpos. Karoline vê esse prêmio como uma plataforma para inspirar outras designers e estilistas a abraçar a diversidade, desafiando os padrões tradicionais que muitas vezes dominam a indústria da moda. Ela acredita que ser reconhecida em um evento tão prestigioso pode abrir portas para novas colaborações e oportunidades, permitindo que sua visão se expanda ainda mais.
Karoline Vitto aborda a diversidade com uma perspectiva profundamente enraizada em sua própria experiência e nas necessidades das mulheres ao seu redor. Ela afirma: "Trabalhamos com um casting exclusivamente curve, ou seja, com modelos de tamanhos acima do padrão 36 da indústria", Para Karoline, a inclusão vai além de simplesmente ter modelos de diferentes tamanhos; trata-se de criar peças que realmente atendam às necessidades de todos os corpos. Em suas coleções, ela se concentra em silhuetas que valorizam as curvas e proporcionam conforto, afirmando que sempre criou com uma forte consideração ao usuário. Essa abordagem não só destaca a beleza da diversidade, mas também demonstra a importância de um casting responsivo em relação aos clientes da marca.
A moda tem um papel poderoso na formação da percepção social sobre o corpo e a beleza. Karoline acredita firmemente que "se a maioria de nós não tem tamanho zero, então por que não vemos isso nos desfiles?" Essa afirmação encapsula sua visão de que a indústria precisa refletir a realidade da maioria das mulheres. Ao incluir modelos de diferentes tamanhos e formas em suas apresentações, ela desafia os estereótipos tradicionais e promove uma narrativa positiva sobre aceitação corporal. Para Karoline, cada desfile é uma oportunidade de mostrar que todos os corpos são dignos de serem celebrados. Ela defende que quando as marcas adotam essa filosofia, elas não apenas ajudam as mulheres a se aceitarem como são, mas também fomentam uma cultura mais inclusiva e saudável. Karoline acredita que se mais marcas adotassem práticas inclusivas, o mercado se tornaria mais receptivo à diversidade. Ela gostaria de ver um futuro onde as mulheres não apenas se sentissem representadas nas campanhas publicitárias, mas também tivessem acesso a roupas que realmente atendessem às suas necessidades. Para ela, isso é fundamental para construir uma indústria da moda mais justa e equitativa.
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A trajetória de Karoline Vitto na moda é marcada por dedicação e inovação. Desde seus primeiros passos em instituições renomadas como Central Saint Martins e Royal College of Art, ela sempre teve um foco claro: explorar novos materiais e técnicas. Além de sua formação acadêmica, um aspecto notável em seu trabalho é o uso de materiais deadstock, uma prática sustentável que contribui para a redução de desperdícios na indústria da moda. Karoline também é conhecida pela justaposição de malha, tricô e metal, criando uma estética única que desafia as normas tradicionais do vestuário feminino. Sua experiência acadêmica não só aprimorou suas habilidades técnicas, mas também aprofundou sua compreensão sobre o impacto social da moda. Após se estabelecer em Londres, Karoline enfrentou desafios significativos ao tentar romper com os padrões tradicionais da indústria. No entanto, ela perseverou e começou a ganhar reconhecimento por suas coleções ousadas e inclusivas. Cada peça que cria é uma extensão de sua filosofia pessoal — celebrar a diversidade dos corpos femininos e oferecer sua visão de moda para todas as mulheres.
Karoline oferece conselhos valiosos para aspirantes (ou não) a estilistas: "Seja autêntico e fiel à sua visão". Ela enfatiza a importância de não se deixar levar pelas tendências passageiras. Em vez disso, incentiva os novos talentos a explorarem suas próprias identidades criativas e culturais. Karoline também ressalta a importância de estabelecer conexões genuínas dentro da indústria, pois essas relações podem abrir portas colaborativas positivas.
Para manter sua criatividade viva, Karoline busca inspiração em diversas fontes culturais e artísticas. Ela menciona frequentemente referências musicais brasileiras como parte fundamental do seu processo criativo. A música não apenas influencia seus designs, mas também a ajuda conectar-se com suas raízes culturais. Além disso, Karoline acredita na importância de explorar novas experiênciaspara expandir seu horizonte criativo, enfatizando que estar aberta ao mundo ao seu redor é essencial para inovar na moda. Essa abordagem permite que ela traga frescor às suas coleções e mantenha sua visão única no competitivo mundo da moda