O futuro dos eventos de moda: uma reflexão sobre o OCTA Fashion
por Carla Pietra, Larissa Berri e Matheus Duarte
Os eventos de moda possuem uma função essencial: ser o palco para que designers suas coleções para um público previamente selecionado: jornalistas, compradores, influenciadores e celebridades. Um exemplo significativo a ser citado é o OCTA Fashion, um evento de graduação que oferece espaço para talentos emergentes do design de moda apresentarem criações inovadoras.
Desta forma, ao pensar no avanço da tecnologia, nas mudanças das demandas sociais e comportamentais dos consumidores e no crescimento das plataformas digitais, fica cada vez mais clara a necessidade de se refletir sobre o formato “tradicional” desses eventos. Qual será o futuro dos eventos de lançamento de coleções de moda?
Transformações e Tendências
Em meio a esse cenário em constante transformação, analisar quem é o consumidor e qual o seu comportamento é fundamental. As pessoas estão cada vez mais conectadas e exigentes, esperando personalização, interatividade e sustentabilidade nas experiências que vivenciam.
Esse senso crítico molda um conjunto de percepções e expectativas que nos orientam a questionar como esse contexto impacta no formato de eventos como o OCTA Fashion. Como as novas tecnologias, como realidade aumentada e desfiles virtuais, podem enriquecer e transformar essas apresentações?
Essas foram algumas das questões exploradas pelos autores durante a disciplina de Análise e Prospecção de Tendências, do Programa de Pós-Graduação de Moda da UDESC, ministrada pela professora Sandra Rech.
Através do processo de triangulação cultural, foram investigadas as tendências globais, o panorama de eventos de moda no Brasil e as percepções de especialistas da área. O estudo buscou entender o papel dos eventos na projeção de designers independentes e propor caminhos para que eventos como o OCTA Fashion continuem relevantes em um mercado em constante evolução.
Nos bastidores do universo da moda, o processo de apresentar uma nova coleção envolve muito mais do que a criação de peças inovadoras. Em uma conversa exclusiva, foram reunidos insights valiosos de três profissionais influentes da indústria: Henri Moi, head da Brazil Immersive Fashion Week; Amanda Campos, Coordenadora Geral do OCTA Fashion; e Bruna Machado, Trend Forecaster da Grendene. Eles compartilharam suas percepções sobre os principais desafios que esses novos designers enfrentam e as estratégias que podem transformar eventos de moda em experiências atrativas.
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Desafios para novos designers
A partir de todo este cenário, Amanda observa que o grande obstáculo está em atrair o público adequado e garantir um retorno financeiro para o designer. Ela destaca que muitas vezes é necessário pagar para que pessoas influentes compareçam ao evento, o que gera uma demanda por investimentos que nem sempre estão ao alcance de marcas emergentes. Além disso, ela salienta a importância do desenvolvimento regional: “É crucial articular a indústria com a universidade para fomentar o crescimento local.”
Já Henri aponta que o custo elevado para se inserir em eventos consolidados é uma barreira significativa. Ele acredita que: “(...) ser inovador hoje é um desafio, pois estamos expostos a uma enxurrada de informações, tanto no Brasil quanto no exterior.” E ainda complementa que o caminho está em criar uma inovação nichada, focada em comunidades ou grupos específicos de consumidores.
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O papel dos desfiles de moda no cenário atual
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Pensando nesses grupos de consumo e apesar da importância simbólica dos desfiles, principalmente no sentido de pertencimento social, Henri observa que estamos saindo da “era instagramável”. Antes, o impacto visual era o principal critério de sucesso, mas agora, o desafio é tornar o evento relevante em múltiplas plataformas, ao utilizar a tecnologia como uma ferramenta integradora. “Os desfiles de hoje precisam ir além da passarela e criar experiências imersivas”, diz o especialista.
Quanto à visão de Bruna, a especialista afirma que o papel dos desfiles está cada vez mais relacionado à projeção das coleções. Contudo, ela questiona se um desfile é sempre a melhor opção para novos designers: “Talvez um showroom ou algo mais comercial faça mais sentido, pois isso pode gerar mais vendas do que apenas o buzz de um desfile.” A chave, segundo ela, é definir o real objetivo do evento: alcançar visibilidade ou gerar lucro?
O formato é a chave
É a partir da definição desse objetivo e de qual é (ou deve ser) o público que se chegará a um formato ideal de evento. Bruna acredita que a inovação pode surgir de colaborações inesperadas, como a união da moda com o design de interiores, por exemplo, criando um ambiente interativo e instigante através desse elemento surpresa. Para ela, “(...) a localização também pode ser esse fator decisivo”, sugerindo que o mistério sobre o local do evento só seja revelado algumas horas antes, ou que o evento aconteça em um espaço inusitado.
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A inovação no lineup
O elemento surpresa também é ressaltado por Amanda como um ponto essencial de atração de público. Ela acredita que é necessário “(...) trazer nomes de peso para o evento, pessoas que não necessariamente são consumidoras, mas que agregam legitimidade ao que está sendo apresentado”.
Ainda sobre o tema, Bruna complementa que a integração de nomes já consolidados com designers emergentes ajuda a aumentar a visibilidade de todos os participantes.
Ao mesmo tempo, as escolhas dos nomes e das marcas precisam estar em sintonia com o público-alvo do evento. Henri neste ponto ressalta a importância de entender o público para quem se deseja apresentar: “Inovar é saber quem se quer atingir e criar algo que dialogue com esse grupo específico.”
Insights
Os eventos de moda estão passando por uma transformação significativa, impulsionados por avanços tecnológicos, mudanças no comportamento do consumidor e novas demandas por experiências mais imersivas e interativas.
Além disso, vivemos em um contexto de excesso de estímulos, no qual a sobrecarga emocional e o estilo de vida sempre conectado estão esgotando os sentidos. A pandemia acabou por desencadear uma “revolução sensorial”, exigindo que as pessoas se adaptassem rapidamente a novos padrões de trabalho e comportamento social. Esse é um cenário que impacta diretamente os eventos, que precisam se reinventar para captar a atenção de um público saturado por informações e estímulos constantes.
Nessa busca de se manterem relevantes, eventos como o OCTA Fashion precisam incorporar a personalização e a diversificação de formatos. A tendência For You, por exemplo, evidencia que, em meio a uma avalanche de produtos e informações, os consumidores buscam experiências personalizadas e exclusivas que refletem sua individualidade.
A curadoria, nesse cenário, se torna fator essencial. Os eventos de moda precisam fortalecer essa singularidade, identificando os diferentes perfis de público e entendendo suas expectativas, uma vez que a cultura dominante está perdendo cada vez mais espaço para a personalização.
Desta forma, o sucesso dependerá dessa capacidade de compreender o público e oferecer algo que vá além do desfile tradicional, explorando formatos híbridos, tecnológicos e multidisciplinares. Integrar elementos como realidade virtual, performances artísticas ou musicais e experiências sensoriais cria oportunidades para interações mais profundas, que geram um engajamento mais genuíno.
Ao adotar essas estratégias e expandir sua presença por meio de parcerias e novas abordagens comerciais, o OCTA Fashion pode continuar sendo uma plataforma vital para a promoção de novos talentos, mantendo sua relevância em um mercado dinâmico e em constante evolução. O futuro dos eventos de moda é híbrido, criativo e colaborativo – e cabe aos organizadores aproveitarem esse momento de mudança para inovar e entregar uma curadoria que fortaleça a individualidade e atenda às novas demandas sensoriais do público e do mercado.