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B-melanina: brasilidade, beleza e um novo olhar para o futuro do cuidado com peles pretas

No Brasil, a indústria da beleza tem avançado no reconhecimento da diversidade estética, mas a representatividade continua sendo um desafio. A melanina, o pigmento que dá cor à pele, cabelo e olhos, é especialmente significativa em um país onde a população negra é central na cultura. “B-melanina” é um estudo de futuros realizado dentro da disciplina Análise e Prospecção de Tendências do Programa de Pós Graduação em Moda da UDESC, o PPGModa. Segundo a pesquisa, a “B-melanina” é mais que uma tendência, mas um movimento que busca enfatizar que a população negra não deve ser vista apenas como um nicho de mercado, mas como um grupo que busca celebração e reconhecimento genuíno da sua beleza, e que implica envolver pessoas negras nas decisões de marca, não apenas como consumidores, mas também como colaboradores.

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Racismo Estético

 

O racismo estético reflete uma exclusão histórica das peles pretas no mercado de cosméticos, onde a falta de produtos específicos para tons de pele negros e subtons diversos é notável aos consumidores. O termo, criado pelo jornalista, influenciador e maquiador Tássio Santos, trata tanto da disponibilidade de produtos quanto da forma como as marcas de beleza se comunicam com esse público, muitas vezes falhando em representar a pluralidade e a beleza de tons mais escuros.

 

Um dado interessante é que 43% das buscas por “pele negra” na plataforma Google não mostram um anúncio, ou seja: não só as campanhas publicitárias mostram mais mulheres negras de pele mais clara, mas uma boa parte das marcas ainda não representa a pele negra em seu material de comunicação. E o tamanho deste mercado é enorme. Segundo dados do Instituto Locomotiva a pedido do Jornal Folha de São Paulo, só as mulheres negras movimentam mais de R$ 700 bilhões por ano no Brasil, país que é o quarto maior mercado do mundo no setor de beleza e cuidados pessoais. A população negra no Brasil movimenta uma parte significativa da economia, com um poder de compra que alcançou R$1,46 trilhão em 2022, segundo dados da pesquisa do Preta Hub, Instituto MAS Pesquisa e Oralab. No entanto, apesar de representar uma fatia importante do consumo, essas pessoas ainda não se veem atendidas pelas marcas de cosméticos.

 

Embora marcas como Fenty Beauty tenham começado a oferecer uma ampla gama de tons, ainda existe um longo caminho para que o mercado seja realmente inclusivo e respeite a pluralidade da pele negra. Segundo os dados de uma pesquisa da marca Avon, 70% das mulheres negras não estão satisfeitas com os produtos específicos de maquiagem disponíveis hoje no mercado. Além disso, 46% disseram desistir de uma compra por não encontrar sua cor. Este cenário também faz com que essas consumidoras precisem gastar, em média, 50% a mais com maquiagem em comparação às mulheres brancas, já que não se trata apenas da falta de produtos, mas da ausência de subtons adequados, gerando opções que deixam a pele com aspecto acinzentado ou artificial.

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Em um país tão miscigenado quanto o Brasil, o coloris - mo afeta diretamente o acesso a produtos de beleza, com pessoas com tons de pele mais escuros enfrentando mais dificuldades em encontrar produtos de maquiagem adequados. A escassez de produtos para tons médios e escuros resulta em uma insatisfação generalizada entre as consumidoras negras. “O mercado para peles negras está crescendo, mas a oferta de produtos ainda não atende completamente a todas as variações de tons e subtons” explica o maquiador Dauã Lopes, ressaltando ainda, que incluir pessoas pardas e pretas em todas as etapas do desenvolvimento de produtos e campanhas é essencial para criar soluções mais assertivas.

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Necessidade de formulações específicas

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A maquiagem deve levar em consideração, além de cores fortes e escuras, que existem subtons de cores escuras. É a mesma lógica da construção de uma roupa plus size: não basta caber, precisa vestir bem – e não é só aumentando a grade padrão, uma vez que esse público exige modelagens específicas.

 

Segundo a dermatologista Marcela Trindade, ingredientes como vitamina C, ácido salicílico, niacinamida e protetor solar são essenciais para o cuidado da pele negra, ajudando na uniformização do tom e na hidratação. No mercado, inovações como produtos multifuncionais e com acabamentos leves e naturais estão em alta. Essas tendências, juntamente com o uso desses ingredientes chave, são fundamentais para atender às necessidades específicas da pele negra e indicam o futuro promissor do mercado de beleza. Para Lucas Paião, publicitário com experiência em campanhas de maquiagem, o cuidado com a pele deve focar nas necessidades de cada tipo de pele (oleosa, seca, sensível), independentemente do tom, evitando a segregação e a falsa noção de que peles negras não precisam de cuidados como a proteção solar.

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B-melanina, o manifesto:

Mesmo sendo o terceiro país que mais consome produtos de beleza no mundo, a indústria de cosméticos brasileira ainda exclui pessoas de pele preta. Acreditamos que não podemos falar de Brasilidade e de toda a riqueza étnica e cultural de nosso país sem reconhecer e atender as necessidades únicas da pele preta. Por muito tempo consumidores negros foram negligenciados por uma indústria que prioriza padrões eurocêntricos, oferecendo produtos que não consideram as nuances de cor e subtons das peles negras. Inovar é incluir, e isso começa com o desenvolvimento de produtos que respeitem e valorizem cada tipo de pele preta. É importante a criação de um mercado cosmético inclusivo, que vá além da representatividade superficial, oferecendo soluções reais e acessíveis para mulheres e homens negros. As marcas precisam adotar práticas de design de produtos com um compromisso genuíno com a diversidade, consultando especialistas em pele negra e ouvindo as demandas dos consumidores que, até agora, têm sido ignorados. A inovação deve ser acompanhada por educação, tanto para profissionais da área quanto para o público. Inovar no mercado de beleza é, acima de tudo, lutar contra o racismo estético e o colorismo. Desejamos que as marcas assumam a responsabilidade de proporcionar um atendimento inclusivo e que cada consumidor negro possa se sentir representado e respeitado ao entrar em uma loja. A beleza preta merece ser celebrada e o futuro da indústria só será verdadeiramente inovador quando incluir todos de forma justa e igualitária, empoderando e celebrando a beleza das peles pretas. g

Autoras

Bruna Osmari

Gisele Ghanem Cardoso

Isabela Souza Prates

Isadora Belchior

Stephanie Barcelos

Dra. Sandra Regina Rech

(PPG Moda UDESC)

Equipe

Modelo

Vic Santos (Mega Models)

Fotografia

Caio Cézar

Make

Lu Medeiros

Tratamento

Breno Cardoso

Styling e produção

Julia Ayumi

Bruna

Hayani

Ana Luiza

Mariana

Helton

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