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Moda, memória & moradia no Dragão Fashion 23

​Uma coleção de moda eco consciente que costura a história e a realidade social de Florianópolis, explorando o direito à moradia e a preservação do patrimônio histórico.

A década de 2020 trouxe consigo desafios cruciais para a indústria da moda. A busca por uma moda mais sustentável e responsável tornou-se imperativa, enquanto o mundo enfrenta ameaças globais como as mudanças climáticas e crises sanitárias. Em meio a esse contexto, o Dragão Fashion Brasil e o Concurso dos Novos emergiram como catalisadores de mudanças, promovendo uma moda que transcende o superficial para abordar questões sociais e ambientais essenciais.

 

A COP271 , realizada no Egito em novembro de 2022, revelou a urgência de conter as emissões de gases de efeito estufa para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Nesse cenário, a indústria da moda não pode mais se dar ao luxo de ignorar sua pegada ecológica. O Dragão Fashion Brasil, um evento de moda pioneiro no Brasil, tem desempenhado um papel fundamental ao dar destaque a designers comprometidos com práticas sustentáveis e inovações ecoconscientes.

 

Mas a moda vai além das passarelas e dos desfiles. Ela é um reflexo da sociedade em que vivemos. A pandemia de Covid-19 escancarou as disparidades sociais, revelando a falta de moradia e infraestrutura adequadas. Enquanto a campanha “Fique em casa!” ecoava, muitos brasileiros não tinham um lar. Isso levanta uma questão crucial: o direito à moradia, um pilar básico do desenvolvimento humano, é negligenciado em nossa sociedade.

 

Florianópolis, cidade repleta de história e cultura, serve como pano de fundo para essa narrativa. Suas ruas são um verdadeiro tesouro de memórias, mas também revelam a triste realidade da falta de moradia. A Praça XV, o coração da cidade, testemunhou manifestações políticas e sociais ao longo dos anos. Bancos que antes eram testemunhas de negócios agora são assentos de pessoas sem moradia.

 

A coleção “Ao Largo” desenvolvida pelos estudantes do Bacharelado em Moda da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Gabriela Carvalho, Jutyara Mendes, Ligia Lugnani, Maria Eduarda Corrêa dos Santos, Nicolas Santos Nunes e Rafaela Bauler Theiss, nasceu dessa intersecção entre moda, moradia e memória. Ela lança um olhar crítico sobre o direito à moradia e a negligência em relação aos prédios históricos que poderiam ser revitalizados para abrigar aqueles em situação de vulnerabilidade. “Largo” aqui representa não apenas os espaços urbanos, mas também o ato de “largar” os indivíduos nas ruas das cidades.

 

A equipe traduz a ideia de lar em elementos visuais que incorporam o deslocamento e a memória. Arquitetura neoclássica se mescla com motivos em crochê retirados dos mosaicos das ruas, simbolizando a passagem do privado para o público. Chaves representam a morada que nunca foi acessada, destacando a luta pelo direito à habitação.

 

A coleção não é apenas sobre roupas, mas sobre contar histórias. Ela costura juntas a história, a vivência, a cidade e o direito à moradia. Cada peça é uma declaração de esperança e responsabilidade, comunicando não apenas moda, mas também uma mensagem poderosa sobre a necessidade de transformação social e ambiental.

 

Enquanto o Dragão Fashion Brasil e o Concurso dos Novos continuam a impulsionar a moda brasileira em direção à sustentabilidade e à conscientização social, “Ao Largo” mostra que a moda pode ser uma ferramenta para a mudança, uma voz que ecoa a necessidade de justiça social e ambiental. Neste momento crítico da história, a moda não é apenas uma expressão de beleza, mas também um meio de dar voz àqueles que estão à margem da sociedade, lembrando-nos de que todos merecem um lugar para chamar de lar.

A coleção costura juntas a história, a vivência, a cidade e o direito à moradia.

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