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Moda: ferramenta de comunicação do indivíduo

por Antônio Pedro Cardoso
Mestrando PPGModa

Nos estudos teóricos sobre moda, autores como Gilles Lipovetsky, em 1989, reiteraram o controle que a moda exerce sobre a indústria da aparência. Na prática, em 2023, conseguimos acompanhar nas telas de nossos celulares o resultado de cirurgias que influenciadores digitais e grandes celebridades fizeram ou refizeram ao ver que seus “antigos” corpos não estavam mais em alta. Vimos nesta década também o boom de novos profissionais “especialistas em harmonização facial”. A aparência é, mais do que nunca, uma indústria.

 

Outra autora, Cristiane Mesquita, nomeia o funcionamento dessa indústria de modo-moda. A aparência, citada acima, é considerada por Cristiane a afirmação da ligação entre a subjetividade e o vestir. Assim, como demonstração de subjetividade, a moda ganha o título de comunicadora. Mais um título, pode-se dizer, pois a palavra - e, portanto, o conceito- moda é múltipla em interpretações. Para o estilista Marc Jacobs, por exemplo, “a moda é uma forma de entretenimento, não uma necessidade. Todos precisamos vestir roupas, mas não precisamos vestir roupas de marca”.

 

Voltando ao significado de moda como comunicação, não se trata de uma informação nova. Não é à toa que temos bem guardados na memória os dresscodes julgados apropriados para da maioria dos eventos: respeito, luto, desejo... É papel das roupas também comunicar.

 

Podemos olhar para trás e refletir que a indumentária é historicamente um objeto repleto de significados. Quando relacionamos estes signos a um conjunto de subjetividade de um indivíduo, chegamos na palavra estilo. Este, por sua vez, engloba peças do vestuário, acessórios e até intervenções corporais, como piercings, tatuagens e até cortes de cabelo. Aqui entra também uma certa noção de atitude, termo que indica a união de componentes que variam desde a gestualidade e postura até preferências musicais, artísticas e de lazer.

 

Assim, associando sempre estilo à subjetividade, a moda se torna extensão do indivíduo. Historicamente, é a partir da década de 1950, com a industrialização massiva da moda e do interesse dos países como França e Estados Unidos em se tornarem referências (american way of life e a garota parisiense), que produtos passam a ser criados para pessoas com determinados estilos de vida.

 

Hoje conseguimos ver exemplos óbvios disso. O nicho altamente lucrativo das camisas de time que, além de refletir o estilo de vida de quem acompanha esportes, ganhou outro olhar em 2023 com colaborações com grandes artistas. Aqui podemos a colab entre a cantora Rosalía e o time espanhol Barcelona, ou até mesmo no Brasil a camisa em homenagem ao cantor Cartola criada pelo time carioca Fluminense. Roupas e acessórios de upcycling por muitas vezes também encontram como compradores pessoas que se importam com sustentabilidade e possuem um estilo de vida que reflete suas preocupações com o planeta.

 

Para além de estilo de vida, a moda também é tópico em discussões sobre gênero e diversidade. Pessoas trans deram depoimentos sobre a importância da roupa em suas vidas para o jornal americano San Francisco Chronicles, referindo-se à moda como “uma chama de euforia”. Um dos entrevistados diz que, “vestir-se é afirmar-se, em suas palavras “uma oportunidade de ser quem sou”.” Outro entrevistado afirma que é como se seus sentimentos mais íntimos “viessem à tona”.

 

Assim, vemos que moda pode ser sim um elemento importante para a autoestima, seja na autoaceitação de pessoas queer ou na sensação de pertencimento dentro de uma torcida de um time de futebol. Cabe sempre a reflexão de o que estamos consumindo e, especialmente neste espaço, o que nós como designers estamos criando.

 

Com uma ferramenta valiosa em nossas mãos, cabe a nós especular o valor da comunicação para além das nossas próprias subjetividades, entendendo que o que criamos se torna objeto de expressão do indivíduo.

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